A Mulher do Laranjal

Há muitos anos, no interior do sudeste do Brasil, havia um senhor muito poderoso, dono de um dos maiores laranjais da região. No período de colheita muitos escravos trabalhavam de domingo a domingo, quase que o dia todo.

Muitos dos escravos não aguentavam de cansaço, e acabavam que morrendo durante o trabalho, ou muitas vezes desmaiavam, sofrendo castigos severos do capitão do mato, que os chicoteava muitas vezes até a morte.

No meio desses escravos existia uma mulher chamada Luiza e outra chamada Tereza. Luiza era uma negra forte e determinada, e mesmo exausta não dava o braço a torcer, e sempre que colhia as laranjas cantava, acompanhada de um sorriso.

Já Tereza tinha muita inveja de Luiza, tanto de sua beleza, como de sua voz, apesar de Tereza também cantar muito bem, todos os escravos ficavam encantados e admirados com a voz de Luiza durante as festas da senzala.

E assim foram passando os dias com Tereza alimentando mais e mais a inveja e ódio por Luiza.

Certa manhã, o dono do laranjal Pedro Valensa foi inspecionar os escravos durante a colheita, e ouviu ao longe uma doce voz cantando. Curioso para saber de quem era esta voz, o homem caminhava lentamente pelo laranjal, até finalmente encontrar Luiza.

Encantado com sua beleza e com a doçura de sua voz, o homem não pensou duas vezes, tirou ela daquele lugar, ofereceu-lhe serviço na casa grande, sem fazer muito esforço e cheia de requintes, queria vesti-la bem, e ensiná-la a ser uma dama.

Luiza disse que aceitaria, mas gostaria que a carga horária dos escravos fosse cortada pela metade, pois muitos deles estavam morrendo de exaustão, e aconselhou que se continuassem assim logo ele ficaria com pouca mão de obra, e que teria muito gasto comprando novos escravos.

Mas a maior preocupação de Luiza era com a saúde de seu povo. Como estava cego de encantos pela negra, e impressionado com seu poder de negociação, o homem imediatamente aceitou as condições de Luiza e imediatamente a levou pra casa grande.

Passado muito tempo, Luiza já era uma dama refinada, deixou de ser uma empregada, e casou com Pedro Valensa, tornando-se assim senhora do mesmo. Mas continuava humilde como sempre, e todo dia ia visitar seus ex companheiros de senzala.

Com muita inveja de tudo que Luiza havia conquistado, Tereza decidiu que se ela não poderia ter aquilo, ninguem mais teria, e, como de costume Luiza sempre visitava os escravos nas tardes de quaresma, pois eram muito religiosos, e ela gostava de compartilhar este momento com eles.

Tereza aproveitando se disso armou para Luiza. Atraiu Luiza sozinha até a beira de um penhasco próximo ao laranjal, afirmando que havia um negro correndo perigo, e preocupada Luiza imediatamente foi até o local acompanhada de Tereza.

Chegando lá Tereza disse que o homem estava pendurado e que precisava de ajuda para tira-lo de lá, então Luiza foi até a beira do penhasco quando Tereza a empurrou.

Tereza ficou rindo ao ver o corpo de Luiza se chocar contra as pedras causando sua morte, então mudou a expressão e saiu correndo desesperada, para avisar a todos que Luiza havia se jogado do penhasco.

Ao saber da noticia, Pedro Valensa imediatamente correu até lá e constatou o que Tereza dizia. Perguntou a Tereza como havia acontecido aquilo, e Tereza contou que nada sabia, só que enquanto caminhava no laranjal viu ao longe Luiza pular a cerca, como achou estranho seguiu a mesma até o penhasco onde a viu se atirar.

Pedro Valensa não estava satisfeito com a estória de Tereza, e pediu para ver suas mãos. Cheirou e constatou que, as mãos de Tereza tinham o mesmo perfume de Luiza, constatando que a mesma estava mentindo, e havia empurrado ela.

Enfurecido, Pedro Valensa, ordenou que Tereza fosse enforcada, na árvore mais alta do seu terreno. Depois de muito caminhar encontraram uma mangueira e a penduraram lá, enquanto era enforcada Pedro Valensa ordenou que a mesma fosse apedrejada até o ultimo suspiro.

O homem então ordenou que seu corpo fosse jogado em uma fossa que havia a beira do penhasco, para que seu cadáver apodrecesse junto as fezes.

A partir daquele dia, todas as noites os escravos escutam gritos de choro e lamento vindo do laranjal a beira do penhasco. Poucos se atrevem a ir atrás, os poucos corajosos que se arriscaram, foram encontrados mortos no fundo do penhasco na manhã seguinte e, os que voltaram pra contar a estória, diziam que encontraram com uma mulher negra andando pelo laranjal, toda suja deformada e com uma corda no pescoço, afirmando que Luiza estava correndo perigo a beira do penhasco, e pedindo para que o mesmo a seguisse.  dias depois de relatar a tal visão, se atiravam no penhasco.

E até os dias de hoje Tereza continua atraindo vítimas nas noites sombrias de quaresma que cobrem o laranjal.