
Contam que há muito, mas muito tempo atrás, uma lancha estava cruzando
de Granada a São Carlos e, quando contornava a ilha Redonda, recebeu
sinais de socorro feitos com um lençol. Então dirigiu-se para lá.
Ao desembarcarem, os tripulantes ouviram apenas lamentos de dor.
As duas famílias que viviam na ilha, desde os velhos até as crianças,
de uma cobra venenosa.
Levem-nos para Granada, pelo amor de Deus! suplicaram.
E quem paga a viagem? perguntou o capitão.
Não temos nem um centavo responderam os envenenados , mas pagamos
com lenha, com bananas.
E quem vai cortar a lenha? Quem vai colher as bananas? indagaram os
marinheiros.
Estou levando uma vara de porcos a Los Chiles e, se não ficar atento,
os animais poderão morrer sufocados lembrou o capitão.
Mas nós somos gente argumentaram os moribundos.
Nós também replicaram os barqueiros , e ganhamos a vida com isso.
Mas, meu Deus! gritou então o mais velho morador da ilha. Não
vêem que se nos deixarem aqui, nos entregarão à morte?
Lamento, mas temos compromissos ponderou o capitão. E voltou ao
barco com os marinheiros, sem sentir a menor pena daquela gente, nem
mesmo vendo como os coitados se contorciam.
E lá ficaram eles. Mas uma velhinha levantou-se imediatamente do catre
e, gritando o mais que pôde, lançou-lhes uma maldição:
Feche-se o lago para eles, assim como nos fecharam o seu coração!
A lancha partiu, afastou-se pelas altas águas do lago a caminho de São
Carlos e, desde então, se perdeu. Assim contam. Nunca mais avistaram
terra. Não podem ver as montanhas nem as estrelas. Há anos, dizem,
séculos que estão perdidos. O barco já está negro, as velas podres e o
cordame arrebentado.
Muita gente do lago os tem visto. Topam nas altas águas com o barco
negro, e os marinheiros, barbudos e esfarrapados, gritam:
Onde fica São Jorge?
Onde fica Granada?
...Mas o vento os leva e não conseguem avistar terra. Foram
amaldiçoados.
Conto retirado do livro: Contos de Assombração Co-Edição Latino-Americana.
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